Questões existencialistas em Ergo Proxy
Partindo do entendimento
de existencialismo, tento nesse texto fazer uma análise do animê Ergo Proxy.
Talvez muitos não concordem com essa visão, e assim espero, já que o animê
aborda muitos outros temas filosóficos, e por isso mesmo acredito que o
existencialismo é um dos temas possíveis neste animê. Outra justificativa para essa abordagem é pelo
questionamento "raison d'être", ou razão de ser, que vai tomando corpo à medida que a
história do animê evolui. Podemos então definir existencialismo como uma corrente filosófica e literária que destaca a
liberdade individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser humano. O
existencialismo considera cada homem como um ser único que é mestre dos seus
atos e do seu destino.
A história de Ergo
Proxy começa numa cidade futurista chamada Romdo, construída para a proteção
dos cidadãos após o apocalipse ambiental global. Nesta utopia, humanos, AutoReivs
(andróides) e robôs coexistem pacificamente num ambiente de total controle. Nesse ambiente uma
série de assassinatos cometidos por robôs e AutoReivs descontrolados infectados
pelo vírus Cogito, que faz com que eles adquiram consciência de si, começa a
ameaçar o delicado equilíbrio da ordem social de Romdo.
O AutoReiv Iggy (à esquerda) e Re-1 Mayer, |
Essa tomada de
consciência dos andróides é bem significativa, pois “o ponto de partida do
existencialismo sarteriano é a subjetividade, o cogito cartesiano, que apreende
a verdade absoluta da consciência na intuição de si mesma. Na subjetividade
existencial, porém, o homem não atinge apenas a si mesmo, mas também aos outros
homens, como condição de sua existência. O que o cogito revela é a
intersubjetividade, na qual o homem decide o que é e o que são os outros. O
existencialismo de Sartre conduz ao desespero, pois nele o ser humano
encontra-se sozinho, abandonado, independente” (SANTANA, 2010). Nesse momento
os AutoReivs começam a questionar a razão da suas existências, o que leva-os a
refletir se eles são o que são por causa da programação ou eles se tornaram o
que são graça a experiência de viver e existir. Seus questionamentos como podem
ver em Iggy, AutoReiv pertencente a personagem Re-1 Mayer, o leva refletir
sobre o sentido da sua própria existência e até mesmo, de modo
surpreendentemente vingativo, combrar de sua dona o reconhecimento de seu valor
quando ser existente.
Raul Creed |
Também a discussão
sobre Deus parece tender a noção existencialista sarteriana, que diz ser o
homem o criador de Deus e que sua tentativa de se igualar a ele é infrutífera,
portanto fadada ao fracasso. Em Ergo Proxy, o governo vem conduzindo experimentos
secretos com uma forma de vida humanóide chamada Proxy. Acredita-se que os
Proxies, descritos como deuses e imortais, seja a chave para a sobrevivência de
humanidade. Em outro momento Raul Creed, nomeado chefe do Escritório de
Segurança dos Cidadãos e encarregado de esconder a existência do Proxy, em um
dos momentos mais filósfico do animê, questiona ao regente de Romdo as razões
dessas experiências com esses seres e demonstra assim o fracasso e a
fragilidade de se adotar um “deus” que não passa de um conceito criado pelo
homem para justificar sua existência.
Daedalus Yumeno e o clone de Re-1 Mayer |
Assim, Raul Creed,
nos leva ao próximo ponto do existencialismo que é a “a condenação humana a ser
livre”. Já que não há um sentido determinado e um deus que justifique esse
sentido, então não há como evitar que criemos um sentido para a nossa própria
vida. O que significa que somos nós os responsáveis pelas nossas escolhas.
Podemos perceber essa busca com Daedalus Yumeno, médico chefe do time de
pesquisa do Proxy e diretor da Divisão de Saúde e bem estar, que exerce essa
liberdade ao extremo quando cria em laboratório um clone de Re-1 Mayer, quem
ele considerava sua razão de viver por acreditar que a tenha perdido.
Outro conceito do
existencialismo o da má-fé, que é um tipo de auto-ilusão, pode ser observado no
animê. A má-fé, de acordo Sartre, é um tipo específico de auto-ilusão, porque
não se trata de um erro, mas de uma mentira, no sentido em que quero ocultar de
mim mesmo uma crença particular acerca da minha liberdade. Incorrer em má-fé é
fingir. Aqui podemos falar de Vincent Law, um imigrante que trabalha para o
governo com a função de caçar e inutilizar robôs infectados. Em um primeiro momento
procura manter uma atidude de má-fé, tentado se enquadrar ao conceito de
cidadania em Romdo.
Vincent Law |
“A minha liberdade
inevitável confronta-se, todavia, com o olhar do outro. Os outros tendem a
olhar-me como se eu fosse uma natureza permanente: um indivíduo com estas ou
aquelas características. Desse modo, objectivam-me, reduzem-me a uma coisa. A
minha irredutível subjectividade é dificilmente compatível com a maneira como
os outros me vêem” (POLÓNIO). Vincent é um imigrante, faz parte de um grupo
social discriminado, inferiorizado, querendo se tornar um cidadão de Romdo, um
objeto a serviço da cidade. Vincent percebe que não conseguirá se ajusta à
Romdo e se joga para fora da cúpula que cerca a cidade. Esse ato faz com comece
os questionamentos: Quem eu sou? Quais minhas origens? Quais os meus objetivos?
E ele toma consciência que lhe falta algo, e esse sentimento de falta o força a
buscar respostas.
“O sentimento do
absurdo da vida surge quando despertamos da nossa existência quotidiana e nos
confrontamos com a ideia da morte inevitável”. No animê, Ergo Proxy é o nome de
um dos proxies chamado Mensageiro da Morte. Este proxy não só representa o fim
inevitável, como o concretiza em Romdo que é completamente destruída . Ergo
Proxy também é a face obscura de Vincent Law, a realidade que ele nega. “Cogito, ergo sum”,
então se torna “Cogito, ergo proxy”, sou o que faço de mim até o fim
inevitável. Vincent, nesse momento, toma
consciência de quem ele é e o que ele fez dele mesmo, assume seu verdadeiro
papel na sua existência para cumprir sua "raison d'être".
Referências:
Ergo Proxy. Em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ergo_Proxy,
SANTANA, Danielle. Existencialismo
(2010). Em: http://www.webartigos.com/artigos/existencialismo/37771/
POLÓNIO,Artur. Existencialismo.
Em: http://ocanto.esenviseu.net/apoio/existencialismo.htm
MARCONDES, Danilo.
Herdeiros da modernidade. In:____, Iniciação a história da filosofia: dos
pré-socráticos à Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2010.
Ergo Proxy.
Diretor: Shukou Murase. Estúdio: Manglobe. País: Japão. Ano: 2006. Episódios:
26. Duração: 23 minutos/cada.
Fodástico esse texto.
ResponderExcluirPoderia indicar um anime semelhante?
ResponderExcluirTem o Anime Steins;Gate...do ponto de vista teórico de tempo e espaço...se o espaço e o tempo é uma linha contínua ou não...
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