sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Questões existencialistas em Ergo Proxy






               Partindo do entendimento de existencialismo, tento nesse texto fazer uma análise do animê Ergo Proxy. Talvez muitos não concordem com essa visão, e assim espero, já que o animê aborda muitos outros temas filosóficos, e por isso mesmo acredito que o existencialismo é um dos temas possíveis neste animê.  Outra justificativa para essa abordagem é pelo questionamento "raison d'être", ou razão de ser, que vai tomando corpo à medida que a história do animê evolui. Podemos então definir existencialismo como uma corrente filosófica e literária que destaca a liberdade individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser humano. O existencialismo considera cada homem como um ser único que é mestre dos seus atos e do seu destino.

               A história de Ergo Proxy começa numa cidade futurista chamada Romdo, construída para a proteção dos cidadãos após o apocalipse ambiental global. Nesta utopia, humanos, AutoReivs (andróides) e robôs coexistem pacificamente num ambiente de total controle. Nesse ambiente uma série de assassinatos cometidos por robôs e AutoReivs descontrolados infectados pelo vírus Cogito, que faz com que eles adquiram consciência de si, começa a ameaçar o delicado equilíbrio da ordem social de Romdo.


O AutoReiv Iggy (à esquerda) e Re-1 Mayer,

               Essa tomada de consciência dos andróides é bem significativa, pois “o ponto de partida do existencialismo sarteriano é a subjetividade, o cogito cartesiano, que apreende a verdade absoluta da consciência na intuição de si mesma. Na subjetividade existencial, porém, o homem não atinge apenas a si mesmo, mas também aos outros homens, como condição de sua existência. O que o cogito revela é a intersubjetividade, na qual o homem decide o que é e o que são os outros. O existencialismo de Sartre conduz ao desespero, pois nele o ser humano encontra-se sozinho, abandonado, independente” (SANTANA, 2010). Nesse momento os AutoReivs começam a questionar a razão da suas existências, o que leva-os a refletir se eles são o que são por causa da programação ou eles se tornaram o que são graça a experiência de viver e existir. Seus questionamentos como podem ver em Iggy, AutoReiv pertencente a personagem Re-1 Mayer, o leva refletir sobre o sentido da sua própria existência e até mesmo, de modo surpreendentemente vingativo, combrar de sua dona o reconhecimento de seu valor quando ser existente.

Raul Creed

               Também a discussão sobre Deus parece tender a noção existencialista sarteriana, que diz ser o homem o criador de Deus e que sua tentativa de se igualar a ele é infrutífera, portanto fadada ao fracasso. Em Ergo Proxy, o governo vem conduzindo experimentos secretos com uma forma de vida humanóide chamada Proxy. Acredita-se que os Proxies, descritos como deuses e imortais, seja a chave para a sobrevivência de humanidade. Em outro momento Raul Creed, nomeado chefe do Escritório de Segurança dos Cidadãos e encarregado de esconder a existência do Proxy, em um dos momentos mais filósfico do animê, questiona ao regente de Romdo as razões dessas experiências com esses seres e demonstra assim o fracasso e a fragilidade de se adotar um “deus” que não passa de um conceito criado pelo homem para justificar sua existência.



Daedalus Yumeno e o clone de Re-1 Mayer
               Assim, Raul Creed, nos leva ao próximo ponto do existencialismo que é a “a condenação humana a ser livre”. Já que não há um sentido determinado e um deus que justifique esse sentido, então não há como evitar que criemos um sentido para a nossa própria vida. O que significa que somos nós os responsáveis pelas nossas escolhas. Podemos perceber essa busca com Daedalus Yumeno, médico chefe do time de pesquisa do Proxy e diretor da Divisão de Saúde e bem estar, que exerce essa liberdade ao extremo quando cria em laboratório um clone de Re-1 Mayer, quem ele considerava sua razão de viver por acreditar que a tenha perdido.


               Outro conceito do existencialismo o da má-fé, que é um tipo de auto-ilusão, pode ser observado no animê. A má-fé, de acordo Sartre, é um tipo específico de auto-ilusão, porque não se trata de um erro, mas de uma mentira, no sentido em que quero ocultar de mim mesmo uma crença particular acerca da minha liberdade. Incorrer em má-fé é fingir. Aqui podemos falar de Vincent Law, um imigrante que trabalha para o governo com a função de caçar e inutilizar robôs infectados. Em um primeiro momento procura manter uma atidude de má-fé, tentado se enquadrar ao conceito de cidadania em Romdo.  
Vincent Law


               “A minha liberdade inevitável confronta-se, todavia, com o olhar do outro. Os outros tendem a olhar-me como se eu fosse uma natureza permanente: um indivíduo com estas ou aquelas características. Desse modo, objectivam-me, reduzem-me a uma coisa. A minha irredutível subjectividade é dificilmente compatível com a maneira como os outros me vêem” (POLÓNIO). Vincent é um imigrante, faz parte de um grupo social discriminado, inferiorizado, querendo se tornar um cidadão de Romdo, um objeto a serviço da cidade. Vincent percebe que não conseguirá se ajusta à Romdo e se joga para fora da cúpula que cerca a cidade. Esse ato faz com comece os questionamentos: Quem eu sou? Quais minhas origens? Quais os meus objetivos? E ele toma consciência que lhe falta algo, e esse sentimento de falta o força a buscar respostas.




               “O sentimento do absurdo da vida surge quando despertamos da nossa existência quotidiana e nos confrontamos com a ideia da morte inevitável”. No animê, Ergo Proxy é o nome de um dos proxies chamado Mensageiro da Morte. Este proxy não só representa o fim inevitável, como o concretiza em Romdo que é completamente destruída . Ergo Proxy também é a face obscura de Vincent Law, a realidade que ele nega. “Cogito, ergo sum”, então se torna “Cogito, ergo proxy”, sou o que faço de mim até o fim inevitável.  Vincent, nesse momento, toma consciência de quem ele é e o que ele fez dele mesmo, assume seu verdadeiro papel na sua existência para cumprir sua "raison d'être".



Referências:

SANTANA, Danielle. Existencialismo (2010). Em: http://www.webartigos.com/artigos/existencialismo/37771/
POLÓNIO,Artur. Existencialismo. Em: http://ocanto.esenviseu.net/apoio/existencialismo.htm
MARCONDES, Danilo. Herdeiros da modernidade. In:____, Iniciação a história da filosofia: dos pré-socráticos à Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2010.
Ergo Proxy. Diretor: Shukou Murase. Estúdio: Manglobe. País: Japão. Ano: 2006. Episódios: 26. Duração: 23 minutos/cada.

3 comentários:

  1. Tem o Anime Steins;Gate...do ponto de vista teórico de tempo e espaço...se o espaço e o tempo é uma linha contínua ou não...

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