sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Este é o meu caminho: Sartre e Naruto

Eu não volto atrás com minha palavra. Este é o meu jeito ninja.
 Naruto


Capa do primeiro Volume de Naruto
Naruto é uma série de animê e mangá criada por Masashi Kishimoto e de muito sucesso no mundo todo (para ter uma idéia, em 2006, foi responsável por 10% da venda de todos os mangás do ano), onde a trama gira em torno de Uzumaki Naruto, um jovem ninja que constantemente procura por reconhecimento e tem o sonho de se tornar um Hokage (a sombra do fogo, o líder máximo e mais poderoso de sua vila, a Vila Oculta da Folha - Konoha Gakure no Sato).
Konoha,a vila de Naruto. Várias Tramas.
O universo de Naruto é cheio de tramas que envolvem vários temas psicológicos, filosóficos e até mesmo políticos ao redor de Naruto e seus amigos. As questões levantadas pela série tratam de valores das relações Eu-Próximo, já que a série relata as relações que cada personagem tem consigo mesmo, com o próximo, com sua vila e com as outras vilas. Relações de amizade, companheirismo, guerras e mesmo de ódio mortal.

Naruto viveu em isolamento social
 A personagem principal, Uzumaki Naruto, é um jovem que tem aprisionado em seu interior a Kyuubi no Yoko (raposa-demônio de nove caudas) que é um bijuu (monstro de cauda), um espírito maléfico que é a materialização de um sentimento negativo no universo fictício da série. Naruto é muito problemático devido ter este monstro em seu interior, (ele não sabe que o monstro está nele) e faz de tudo para chamar a atenção das pessoas para si, para receber alguma atenção por quem ele é, mas o fato das pessoas saberem que ele tem este monstro faz com elas o rejeitem associando Naruto à maldade da Kyuubi, mas Naruto busca de alguma forma demonstrar seu valor como ser humano, ou como ninja da vila da folha, mesmo sem saber o porque das pessoas não gostarem dele sempre pautado no seu sonho de ser Hokage (trad. Líder da vila e ninja mais respeitado).
Diante destes dois pontos é que a vida de Naruto se desenrola em uma trama com lutas, poderes e tudo o que a imaginação de Masashi Kishimoto proporciona, típico dos desenhos japoneses.
Sartre e Kishimoto
Mas, enfim, que relação há entre Kishimoto e Sartre? O que Naruto, de fato, pode ensinar a respeito do existencialismo?  O que este anime tem de filosófico?
Bem, para quem é fã de anime (otaku ou otome), pode dizer que, em todo anime existente, há inúmeras lições de vida, que vão desde o valor próprio ao valorizar o semelhante, o perdoar, enfim, como eu disse, inúmeras lições. Como os otakus (e as otomes) sabem, os animes passam valores da “filosofia Japonesa tradicional”, mas o que alguns poucos otakus percebem é que essas lições já “apareceram” na filosofia ocidental. Como? Minha leitura me engana? pensa o otaku. A resposta: NÃO!
                                                                            




Jean-Paul Sartre, filósofo do séc. XX,  falou o que em Naruto discutiremos: a construção do eu através do que eu escolho ser. E será que Kishimoto não poderia ter pego de Sartre tal idéia de porquê ser e porquê existir, tema dos existencialistas ateus?
Não cabe a mim discutir o que é o eu, afinal em vários séculos, filósofos muito mais doutos não conseguiram, que dirá eu, aluno de filosofia, mas enfim, partamos do pressuposto que o eu seria como eu me vejo, como percebo ou acho que sou. Imagine-se como uma pessoa afável, nada ciumenta, que ajuda as pessoas e que não tem medo de viver. Você se vê assim? Se sim, legal, se não, você percebeu que este não é seu. Mas, Sartre não se preocupa com essa definição de “complexo de Gabriela: eu nasci, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, Gabriela” dos ditados populares brasileiros.
Sartre acredita que o que eu quero ser é de fato o que me torno, à medida que concretizo um objetivo, um projeto como afirmava Sartre. Não entendeu? Sartre acreditava que nós somos responsáveis por nossas escolhas e por quem nós decidimos ser, e não uma força divina ou espiritual como muitos acreditam, que guia a nossa vida. Sendo, assim, o que ocorre em minha vida é fruto das minhas decisões e não do acaso. (Para constar Sartre era ateu, mas, esse debate não tem nada haver com o post...rs)
Naruto adolescente
Vejamos em Naruto onde ocorre esta reflexão . Como foi colocado, Uzumaki Naruto era um garoto problemático na infância, que gostava de aprontar para chamar a atenção dos moradores, então ele também era desprezado, porque as pessoas julgavam esses comportamentos advindos da Kyuubi, dentro do garoto. Colocando aparte este comportamento de Naruto, as pessoas ainda eram temerosas porque esta raposa-demônio havia matado pessoas algum tempo atrás, exatamente quando Naruto nasceu e isso era motivo para associações preconceituosas. Então, para as pessoas, naruto eram um monstro, fruto do destino, sem esperança de mudança, de grandes coisas, apenas um depósito de um demônio violento e mortal onde, a qualquer momento, poderia se libertar. Naruto não passava de uma jaula que uma hora seria aberta para a raposa sair, isso pensavam a maioria das pessoas da vila.
Hyuuga Neji
Mas, Naruto via-se como alguém espetacular, apesar de não ser um gênio em qualquer tipo de habilidade, ele acreditava que um dia iria superar os hokages da vila. Ele acreditava que o seu destino era brilhante e que ele iria conseguir tal destino, ele escreveria seu destino e não as pessoas que não conheciam ele. Um dos mais emocionantes momentos que Naruto demonstra o quanto acredita em si é quando enfrenta Hyuuga Neji, um gênio do clã Hyuuga, um clã com taijustu mais forte da aldeia (taijutsu é  uma técnica corporal). Já no início da luta, todos davam a derrota de Naruto como certa, mas Naruto não deu atenção à qualquer comentário e prometeu derrotar Neji. A luta foi difícil, mas depois de debates filosóficos sobre destino e muita pancadaria (que o Naruto leva de Neji), Naruto, com o poder da Kyuubi, derrota Neji e mostra à todos que ele é quem escreve seu destino e que seu destino não é ser um perdedor ou um monstro.
            O legal é justamente isso em Naruto, Sartre falou que cada indivíduo é responsável pelas suas ações e não forças do destino, que nós que devemos escolher aquilo que consideramos melhor para nós e não os outros, isso Sartre denominou subjetividade, ou seja, cada um tem uma natureza distinta, não uma natureza pré-determinada, considerada feita por um divindade . Quando se acompanha Naruto pode-se perceber isso, já que ele constrói-se como ninja e pessoa apartir do que ele julga correto para ele e para os amigos. O interessante é justamente isso, ele poderia culpar o destino e permanecer dependente desta idéia o que, o tornaria incapaz de mudar seu próprio destino.
Primeiro Hokage
            Naruto é pautado pelo seu sonho de virar hokage e que todos reconheçam seu valor, e fará de tudo para que isso seja possível. Sartre afirma que nos tornamos quem somos a medida em que alcançamos nosso projeto, ou seja, à medida que escolhemos o que é melhor para alcançarmos um sonho ou ideal de vida. Quando se acompanha a série, o fio condutor da vida de Naruto é o ser hokage, suas decisões são pautadas nisto, mas, este sonho não transpassa o que Naruto sente por seus companheiros, ele não se permite deixar de ajudar o mais fraco a crescer. Ele simplesmente quer se tornar forte e proteger os seus companheiros.
                                                          time kakashi: Sakura, Naruto e Sasuke

Apesar de todos os maus tratos e isolamento que Naruto sofreu na infância, quando ele finalmente constrói laços, suas escolhas são pesadas com base no peso que esses laços tem, assim, em momento posterior, quando o seu maior rival e melhor amigo, Uchiha Sasuke, foge da vila por vingança, Naruto já quer tornar-se forte para trazer de volta seu amigo. Apesar dos esforços, Sasuke mostra-se cada vez mais distante e mais poderoso, o que obriga Naruto a querer deter seu amigo.
Fanart: Hokage Naruto
Observamos em Naruto que sua própria existência se enlaça com suas promessas e decisões. Aqui está o existencialismo de Sartre, o fato de eu ser responsável pela minhas ações e decisões e não os outros. Apesar da insistência de outros amigos pedirem para que Naruto esqueça Sasuke, ele afirma que seu jeito ninja era aquele: o de nunca voltar atrás numa promessa ou numa palavra. Esse lema mudou a vida de alguns personagens que se envolvem com Naruto, inclusive antagonistas que tornam-se aliados.
Fanart: Naruto vs Sasuke
Sartre afirmava também que não existe essência que preceda existência, ou seja, não existe algo ou alguém que tenha projetado o ser humano e que ele era responsável por seus atos e sua existência, estando “fadado” à simplesmente a ser livre para escolher, e que o não escolher diante desta realidade, era no mínimo, de má-fé.
Kyuubi alia-se à Naruto
Fica difícil fazer um paralelo desta primeira afirmativa de Sartre, já que em algum momento, há um explicação cósmica para o nascimento de Naruto, que ele era uma pessoa predestinada a brilhar, mas, mesmo assim, Naruto não importa-se com tal afirmativa (o de ser predestinado). Ele vale-se de que sua força de vontade e seu sonho são mais do que preciso para resolver os conflitos do mundo shinobi, que até então vivia debaixo do ódio, mágoa e disputas, e que, como foi mencionado, ele faria as pessoas verem o seu valor.  Já a segunda afirmativa é costumeiramente visto na série, ou seja, Naruto sempre tinha o “poder de escolher” independente da situação. Em situações de quase morte, ou de “nenhuma-possibilidade-de-vencer”, Naruto levantava a cabeça e decidia não ser levado pelas circunstâncias, mas por suas convicções pessoais. Esse tipo de atitude, moldou, como supramencionado, pessoas na estória, inclusive seus próprios mestres (mesmo eles acreditando em Naruto, ele sempre ia além das expectativas) e posteriormente, até a própria Kyuubi .
Enfim, ainda não está concluído a estória do menino com a raposa-demônio dentro de si, assim como as próprias afirmativas de Sartre quanto a essência e existência humana. Mas, fica esse gostinho de dúvida e questionamento. Às vezes até parece que Sartre falou coisas lógicas que nós já sabemos, mas, se pararmos e analisarmos bem, vemos que as vezes é mais fácil culpar alguém ou algo, dentro ou fora do plano humano (lembre-se: aqui não é um debate de fé), do que nos responsabilizarmos por nossos atos e escolhas. Apesar de Sartre ter sido ateu, ele, “de alguma” forma colocou a responsabilidade dos nossos atos, em seu devido lugar, nas nossas costas.


Naruto domina o poder da Kyuubi
 Aceitamos críticas e sugestões.





Sayonara.

Alex Daniel e Ciro Neves



                                                                                                         

Nenhum comentário:

Postar um comentário