sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Este é o meu caminho: Sartre e Naruto

Eu não volto atrás com minha palavra. Este é o meu jeito ninja.
 Naruto


Capa do primeiro Volume de Naruto
Naruto é uma série de animê e mangá criada por Masashi Kishimoto e de muito sucesso no mundo todo (para ter uma idéia, em 2006, foi responsável por 10% da venda de todos os mangás do ano), onde a trama gira em torno de Uzumaki Naruto, um jovem ninja que constantemente procura por reconhecimento e tem o sonho de se tornar um Hokage (a sombra do fogo, o líder máximo e mais poderoso de sua vila, a Vila Oculta da Folha - Konoha Gakure no Sato).
Konoha,a vila de Naruto. Várias Tramas.
O universo de Naruto é cheio de tramas que envolvem vários temas psicológicos, filosóficos e até mesmo políticos ao redor de Naruto e seus amigos. As questões levantadas pela série tratam de valores das relações Eu-Próximo, já que a série relata as relações que cada personagem tem consigo mesmo, com o próximo, com sua vila e com as outras vilas. Relações de amizade, companheirismo, guerras e mesmo de ódio mortal.

Naruto viveu em isolamento social
 A personagem principal, Uzumaki Naruto, é um jovem que tem aprisionado em seu interior a Kyuubi no Yoko (raposa-demônio de nove caudas) que é um bijuu (monstro de cauda), um espírito maléfico que é a materialização de um sentimento negativo no universo fictício da série. Naruto é muito problemático devido ter este monstro em seu interior, (ele não sabe que o monstro está nele) e faz de tudo para chamar a atenção das pessoas para si, para receber alguma atenção por quem ele é, mas o fato das pessoas saberem que ele tem este monstro faz com elas o rejeitem associando Naruto à maldade da Kyuubi, mas Naruto busca de alguma forma demonstrar seu valor como ser humano, ou como ninja da vila da folha, mesmo sem saber o porque das pessoas não gostarem dele sempre pautado no seu sonho de ser Hokage (trad. Líder da vila e ninja mais respeitado).
Diante destes dois pontos é que a vida de Naruto se desenrola em uma trama com lutas, poderes e tudo o que a imaginação de Masashi Kishimoto proporciona, típico dos desenhos japoneses.
Sartre e Kishimoto
Mas, enfim, que relação há entre Kishimoto e Sartre? O que Naruto, de fato, pode ensinar a respeito do existencialismo?  O que este anime tem de filosófico?
Bem, para quem é fã de anime (otaku ou otome), pode dizer que, em todo anime existente, há inúmeras lições de vida, que vão desde o valor próprio ao valorizar o semelhante, o perdoar, enfim, como eu disse, inúmeras lições. Como os otakus (e as otomes) sabem, os animes passam valores da “filosofia Japonesa tradicional”, mas o que alguns poucos otakus percebem é que essas lições já “apareceram” na filosofia ocidental. Como? Minha leitura me engana? pensa o otaku. A resposta: NÃO!
                                                                            




Jean-Paul Sartre, filósofo do séc. XX,  falou o que em Naruto discutiremos: a construção do eu através do que eu escolho ser. E será que Kishimoto não poderia ter pego de Sartre tal idéia de porquê ser e porquê existir, tema dos existencialistas ateus?
Não cabe a mim discutir o que é o eu, afinal em vários séculos, filósofos muito mais doutos não conseguiram, que dirá eu, aluno de filosofia, mas enfim, partamos do pressuposto que o eu seria como eu me vejo, como percebo ou acho que sou. Imagine-se como uma pessoa afável, nada ciumenta, que ajuda as pessoas e que não tem medo de viver. Você se vê assim? Se sim, legal, se não, você percebeu que este não é seu. Mas, Sartre não se preocupa com essa definição de “complexo de Gabriela: eu nasci, eu cresci assim, eu sou mesmo assim, Gabriela” dos ditados populares brasileiros.
Sartre acredita que o que eu quero ser é de fato o que me torno, à medida que concretizo um objetivo, um projeto como afirmava Sartre. Não entendeu? Sartre acreditava que nós somos responsáveis por nossas escolhas e por quem nós decidimos ser, e não uma força divina ou espiritual como muitos acreditam, que guia a nossa vida. Sendo, assim, o que ocorre em minha vida é fruto das minhas decisões e não do acaso. (Para constar Sartre era ateu, mas, esse debate não tem nada haver com o post...rs)
Naruto adolescente
Vejamos em Naruto onde ocorre esta reflexão . Como foi colocado, Uzumaki Naruto era um garoto problemático na infância, que gostava de aprontar para chamar a atenção dos moradores, então ele também era desprezado, porque as pessoas julgavam esses comportamentos advindos da Kyuubi, dentro do garoto. Colocando aparte este comportamento de Naruto, as pessoas ainda eram temerosas porque esta raposa-demônio havia matado pessoas algum tempo atrás, exatamente quando Naruto nasceu e isso era motivo para associações preconceituosas. Então, para as pessoas, naruto eram um monstro, fruto do destino, sem esperança de mudança, de grandes coisas, apenas um depósito de um demônio violento e mortal onde, a qualquer momento, poderia se libertar. Naruto não passava de uma jaula que uma hora seria aberta para a raposa sair, isso pensavam a maioria das pessoas da vila.
Hyuuga Neji
Mas, Naruto via-se como alguém espetacular, apesar de não ser um gênio em qualquer tipo de habilidade, ele acreditava que um dia iria superar os hokages da vila. Ele acreditava que o seu destino era brilhante e que ele iria conseguir tal destino, ele escreveria seu destino e não as pessoas que não conheciam ele. Um dos mais emocionantes momentos que Naruto demonstra o quanto acredita em si é quando enfrenta Hyuuga Neji, um gênio do clã Hyuuga, um clã com taijustu mais forte da aldeia (taijutsu é  uma técnica corporal). Já no início da luta, todos davam a derrota de Naruto como certa, mas Naruto não deu atenção à qualquer comentário e prometeu derrotar Neji. A luta foi difícil, mas depois de debates filosóficos sobre destino e muita pancadaria (que o Naruto leva de Neji), Naruto, com o poder da Kyuubi, derrota Neji e mostra à todos que ele é quem escreve seu destino e que seu destino não é ser um perdedor ou um monstro.
            O legal é justamente isso em Naruto, Sartre falou que cada indivíduo é responsável pelas suas ações e não forças do destino, que nós que devemos escolher aquilo que consideramos melhor para nós e não os outros, isso Sartre denominou subjetividade, ou seja, cada um tem uma natureza distinta, não uma natureza pré-determinada, considerada feita por um divindade . Quando se acompanha Naruto pode-se perceber isso, já que ele constrói-se como ninja e pessoa apartir do que ele julga correto para ele e para os amigos. O interessante é justamente isso, ele poderia culpar o destino e permanecer dependente desta idéia o que, o tornaria incapaz de mudar seu próprio destino.
Primeiro Hokage
            Naruto é pautado pelo seu sonho de virar hokage e que todos reconheçam seu valor, e fará de tudo para que isso seja possível. Sartre afirma que nos tornamos quem somos a medida em que alcançamos nosso projeto, ou seja, à medida que escolhemos o que é melhor para alcançarmos um sonho ou ideal de vida. Quando se acompanha a série, o fio condutor da vida de Naruto é o ser hokage, suas decisões são pautadas nisto, mas, este sonho não transpassa o que Naruto sente por seus companheiros, ele não se permite deixar de ajudar o mais fraco a crescer. Ele simplesmente quer se tornar forte e proteger os seus companheiros.
                                                          time kakashi: Sakura, Naruto e Sasuke

Apesar de todos os maus tratos e isolamento que Naruto sofreu na infância, quando ele finalmente constrói laços, suas escolhas são pesadas com base no peso que esses laços tem, assim, em momento posterior, quando o seu maior rival e melhor amigo, Uchiha Sasuke, foge da vila por vingança, Naruto já quer tornar-se forte para trazer de volta seu amigo. Apesar dos esforços, Sasuke mostra-se cada vez mais distante e mais poderoso, o que obriga Naruto a querer deter seu amigo.
Fanart: Hokage Naruto
Observamos em Naruto que sua própria existência se enlaça com suas promessas e decisões. Aqui está o existencialismo de Sartre, o fato de eu ser responsável pela minhas ações e decisões e não os outros. Apesar da insistência de outros amigos pedirem para que Naruto esqueça Sasuke, ele afirma que seu jeito ninja era aquele: o de nunca voltar atrás numa promessa ou numa palavra. Esse lema mudou a vida de alguns personagens que se envolvem com Naruto, inclusive antagonistas que tornam-se aliados.
Fanart: Naruto vs Sasuke
Sartre afirmava também que não existe essência que preceda existência, ou seja, não existe algo ou alguém que tenha projetado o ser humano e que ele era responsável por seus atos e sua existência, estando “fadado” à simplesmente a ser livre para escolher, e que o não escolher diante desta realidade, era no mínimo, de má-fé.
Kyuubi alia-se à Naruto
Fica difícil fazer um paralelo desta primeira afirmativa de Sartre, já que em algum momento, há um explicação cósmica para o nascimento de Naruto, que ele era uma pessoa predestinada a brilhar, mas, mesmo assim, Naruto não importa-se com tal afirmativa (o de ser predestinado). Ele vale-se de que sua força de vontade e seu sonho são mais do que preciso para resolver os conflitos do mundo shinobi, que até então vivia debaixo do ódio, mágoa e disputas, e que, como foi mencionado, ele faria as pessoas verem o seu valor.  Já a segunda afirmativa é costumeiramente visto na série, ou seja, Naruto sempre tinha o “poder de escolher” independente da situação. Em situações de quase morte, ou de “nenhuma-possibilidade-de-vencer”, Naruto levantava a cabeça e decidia não ser levado pelas circunstâncias, mas por suas convicções pessoais. Esse tipo de atitude, moldou, como supramencionado, pessoas na estória, inclusive seus próprios mestres (mesmo eles acreditando em Naruto, ele sempre ia além das expectativas) e posteriormente, até a própria Kyuubi .
Enfim, ainda não está concluído a estória do menino com a raposa-demônio dentro de si, assim como as próprias afirmativas de Sartre quanto a essência e existência humana. Mas, fica esse gostinho de dúvida e questionamento. Às vezes até parece que Sartre falou coisas lógicas que nós já sabemos, mas, se pararmos e analisarmos bem, vemos que as vezes é mais fácil culpar alguém ou algo, dentro ou fora do plano humano (lembre-se: aqui não é um debate de fé), do que nos responsabilizarmos por nossos atos e escolhas. Apesar de Sartre ter sido ateu, ele, “de alguma” forma colocou a responsabilidade dos nossos atos, em seu devido lugar, nas nossas costas.


Naruto domina o poder da Kyuubi
 Aceitamos críticas e sugestões.





Sayonara.

Alex Daniel e Ciro Neves



                                                                                                         
Questões existencialistas em Ergo Proxy






               Partindo do entendimento de existencialismo, tento nesse texto fazer uma análise do animê Ergo Proxy. Talvez muitos não concordem com essa visão, e assim espero, já que o animê aborda muitos outros temas filosóficos, e por isso mesmo acredito que o existencialismo é um dos temas possíveis neste animê.  Outra justificativa para essa abordagem é pelo questionamento "raison d'être", ou razão de ser, que vai tomando corpo à medida que a história do animê evolui. Podemos então definir existencialismo como uma corrente filosófica e literária que destaca a liberdade individual, a responsabilidade e a subjetividade do ser humano. O existencialismo considera cada homem como um ser único que é mestre dos seus atos e do seu destino.

               A história de Ergo Proxy começa numa cidade futurista chamada Romdo, construída para a proteção dos cidadãos após o apocalipse ambiental global. Nesta utopia, humanos, AutoReivs (andróides) e robôs coexistem pacificamente num ambiente de total controle. Nesse ambiente uma série de assassinatos cometidos por robôs e AutoReivs descontrolados infectados pelo vírus Cogito, que faz com que eles adquiram consciência de si, começa a ameaçar o delicado equilíbrio da ordem social de Romdo.


O AutoReiv Iggy (à esquerda) e Re-1 Mayer,

               Essa tomada de consciência dos andróides é bem significativa, pois “o ponto de partida do existencialismo sarteriano é a subjetividade, o cogito cartesiano, que apreende a verdade absoluta da consciência na intuição de si mesma. Na subjetividade existencial, porém, o homem não atinge apenas a si mesmo, mas também aos outros homens, como condição de sua existência. O que o cogito revela é a intersubjetividade, na qual o homem decide o que é e o que são os outros. O existencialismo de Sartre conduz ao desespero, pois nele o ser humano encontra-se sozinho, abandonado, independente” (SANTANA, 2010). Nesse momento os AutoReivs começam a questionar a razão da suas existências, o que leva-os a refletir se eles são o que são por causa da programação ou eles se tornaram o que são graça a experiência de viver e existir. Seus questionamentos como podem ver em Iggy, AutoReiv pertencente a personagem Re-1 Mayer, o leva refletir sobre o sentido da sua própria existência e até mesmo, de modo surpreendentemente vingativo, combrar de sua dona o reconhecimento de seu valor quando ser existente.

Raul Creed

               Também a discussão sobre Deus parece tender a noção existencialista sarteriana, que diz ser o homem o criador de Deus e que sua tentativa de se igualar a ele é infrutífera, portanto fadada ao fracasso. Em Ergo Proxy, o governo vem conduzindo experimentos secretos com uma forma de vida humanóide chamada Proxy. Acredita-se que os Proxies, descritos como deuses e imortais, seja a chave para a sobrevivência de humanidade. Em outro momento Raul Creed, nomeado chefe do Escritório de Segurança dos Cidadãos e encarregado de esconder a existência do Proxy, em um dos momentos mais filósfico do animê, questiona ao regente de Romdo as razões dessas experiências com esses seres e demonstra assim o fracasso e a fragilidade de se adotar um “deus” que não passa de um conceito criado pelo homem para justificar sua existência.



Daedalus Yumeno e o clone de Re-1 Mayer
               Assim, Raul Creed, nos leva ao próximo ponto do existencialismo que é a “a condenação humana a ser livre”. Já que não há um sentido determinado e um deus que justifique esse sentido, então não há como evitar que criemos um sentido para a nossa própria vida. O que significa que somos nós os responsáveis pelas nossas escolhas. Podemos perceber essa busca com Daedalus Yumeno, médico chefe do time de pesquisa do Proxy e diretor da Divisão de Saúde e bem estar, que exerce essa liberdade ao extremo quando cria em laboratório um clone de Re-1 Mayer, quem ele considerava sua razão de viver por acreditar que a tenha perdido.


               Outro conceito do existencialismo o da má-fé, que é um tipo de auto-ilusão, pode ser observado no animê. A má-fé, de acordo Sartre, é um tipo específico de auto-ilusão, porque não se trata de um erro, mas de uma mentira, no sentido em que quero ocultar de mim mesmo uma crença particular acerca da minha liberdade. Incorrer em má-fé é fingir. Aqui podemos falar de Vincent Law, um imigrante que trabalha para o governo com a função de caçar e inutilizar robôs infectados. Em um primeiro momento procura manter uma atidude de má-fé, tentado se enquadrar ao conceito de cidadania em Romdo.  
Vincent Law


               “A minha liberdade inevitável confronta-se, todavia, com o olhar do outro. Os outros tendem a olhar-me como se eu fosse uma natureza permanente: um indivíduo com estas ou aquelas características. Desse modo, objectivam-me, reduzem-me a uma coisa. A minha irredutível subjectividade é dificilmente compatível com a maneira como os outros me vêem” (POLÓNIO). Vincent é um imigrante, faz parte de um grupo social discriminado, inferiorizado, querendo se tornar um cidadão de Romdo, um objeto a serviço da cidade. Vincent percebe que não conseguirá se ajusta à Romdo e se joga para fora da cúpula que cerca a cidade. Esse ato faz com comece os questionamentos: Quem eu sou? Quais minhas origens? Quais os meus objetivos? E ele toma consciência que lhe falta algo, e esse sentimento de falta o força a buscar respostas.




               “O sentimento do absurdo da vida surge quando despertamos da nossa existência quotidiana e nos confrontamos com a ideia da morte inevitável”. No animê, Ergo Proxy é o nome de um dos proxies chamado Mensageiro da Morte. Este proxy não só representa o fim inevitável, como o concretiza em Romdo que é completamente destruída . Ergo Proxy também é a face obscura de Vincent Law, a realidade que ele nega. “Cogito, ergo sum”, então se torna “Cogito, ergo proxy”, sou o que faço de mim até o fim inevitável.  Vincent, nesse momento, toma consciência de quem ele é e o que ele fez dele mesmo, assume seu verdadeiro papel na sua existência para cumprir sua "raison d'être".



Referências:

SANTANA, Danielle. Existencialismo (2010). Em: http://www.webartigos.com/artigos/existencialismo/37771/
POLÓNIO,Artur. Existencialismo. Em: http://ocanto.esenviseu.net/apoio/existencialismo.htm
MARCONDES, Danilo. Herdeiros da modernidade. In:____, Iniciação a história da filosofia: dos pré-socráticos à Wittgenstein. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed, 2010.
Ergo Proxy. Diretor: Shukou Murase. Estúdio: Manglobe. País: Japão. Ano: 2006. Episódios: 26. Duração: 23 minutos/cada.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012



Orihara Izaya, o filósofo que ama os humanos

[Este texto contém spoilers do enredo]


            “Você se acha especial? Isso não é verdade. Todos são iguais. [...] Veja. Não importava as preocupações deles, agora são todos manchas de sangue no concreto.“ , diz Izaya a uma garota que está prestes a cometer suicídio se jogando de um edifício. Em uma espécie de indução a medo e revolta simultâneos ele pretende analisar a decisão da garota, julgar se sua vida vale ou não a pena. Considerado por Albert Camus o problema fundamental da filosofia o dilema entre o suicídio e a maneira de viver uma existência que não tem sentido não é um problema pós-moderno visto que especulações a seu respeito podem ser encontradas no conceito de “saída racional” dos estóicos ou na ideia de covardia e fracasso segundo Platão. A garota escolhe se jogar do edifício, mas é salva por outro personagem.
            Orihara Izaya é personagem do anime Durarara!! que foi exibido entre 7 de janeiro e 24 de junho de 2010, sendo uma adaptação da novel de Narita  Ryohgo (história) e Yasuda  Suzuhito (arte) com 24 episódios.
            O anime se passa no distrito de Ikebukuro, em Tokyo, onde o encontro de personagens com as mais diversas origens, opiniões, objetivos e detentores de características no mínimo peculiares inicia uma série de confrontos entre os principais focos de poder local.
            O que poderia facilmente ser classificado como coincidência é, na verdade, resultado da manipulação de Izaya, um negociante de informações que nas horas vagas faz jus ao sobrenome Orihara, “aquele que olha para a multidão”, e leva todos os personagens da série a conflitos previamente planejados para observar como se comportam nas mais diversas situações, negando a existência de seres humanos com ações essencialmente boas ou más devido o quanto se tornam interessantes em certos momentos. Podem-se encontrar na obra de Nietzsche questionamentos a respeito da metafísica de Sócrates, que visa julgar os homens de forma teórica, o que apenas o afastaria da verdade em si. Algo realmente válido para o filósofo é interpretar as ações humanas considerando sua multiplicidade exterior, as várias aparências que não constituem uma cobertura para a essência, mas a essência em si. Logo, não seria então apropriado utilizar definições absolutas como bom ou mal.
            Mesmo sendo o personagem mais odiado do anime, ele justifica suas ações alegando que é por amor aos humanos. Também no decorrer da história Izaya, pronúncia em inglês (Isaiah) para Isaías que ironicamente significa “Jeová é salvação” diz não acreditar em Deus, pois não há provas de que ele exista. Porém, de acordo com suas próprias palavras Izaya apresenta o desejo de existir de alguma forma após a morte, seja no inferno ou no céu, chegando a mencionar o Valhala, paraíso para os guerreiros na mitologia nórdica onde apenas os mais fortes em batalha seriam capazes de entrar após a morte. O que importa em sua perspectiva é poder continuar existindo, não importa o lugar.
           Para Izaya, o passado é a verdade em que os humanos devem acreditar, pois não há certeza de futuro e como as pessoas apóiam suas vidas e planos futuros no passado, ele se torna um tipo de deus do qual ninguém pode fugir.


            Segundo uma visão psicológica diletante Orihara Izaya poderia até ser considerado um sociopata e como todo bom filósofo ele consegue despertar discussões e conflitos calorosos com suas ideias, não só no anime como entre o público também. 
       Enfim, Durarara!! é uma obra  que aborda vários temas como  busca pelo sentido da vida, violência como uma forma de amor, internet como barreira e ferramenta de interação social entre outros, que proporciona a meu ver uma representação bem elaborada do cotidiano  além de trazer personagens com filosofia de vida própria.





            Para obter mais informações sobre o anime e os assuntos aqui abordados consulte as páginas à seguir:














O cogito de Descartes no Digimundo


Esse texto tem por finalidade o debate de características filosóficas ocidentais do filosofo René Descartes, dentro do anime Digimon, o texto segue com uma contextualização da linha de pensamento do trabalho, a apresentação do anime e por fim o debate das ideias levantadas durante a leitura do texto.
René Descartes, filósofo do século XVII, nos trás uma das mais célebres e polêmicas expressões filosóficas, “Penso, logo existo”, que se trata da conclusão do “argumento do cogito” (do latim cogito, “penso”). Argumento no qual o filosofo estabelece os fundamentos da construção do “edifício do conhecimento” através da refutação do ceticismo.
Este argumento se baseia em três níveis de intensidade crescente. O primeiro argumento que Descartes nos trás é que a principal fonte de conhecimento do homem são os sentidos. Sendo estes facilmente enganados, e podem nos equivocar em qualquer experiência da percepção dos sentidos. Ele trás consigo uma dúvida a respeito dos sentidos, pois hora fala que não devemos confiar em nossos sentidos, contudo, são a principal fonte nosso conhecimento sobre o mundo natural. E que nem sempre os sentidos nos enganam, havendo momentos em que parecemos ter certeza do que percebemos.
O segundo argumento utilizado por Descartes para o argumento do cogito e a radicalização da dúvida. Ele trás que não possuímos um critério seguro para distinguirmos o sonho da vigília, e tudo o que acreditamos perceber pode estar ocorrendo em nível de sonho, sem ter uma relação com a realidade externa. Trás ainda que o que é ilusório é o tipo de percepção que temos, e não propriamente aquilo que percebemos com suas formas e cores. Ele fala ainda que mesmo imagens fantásticas que temos em nossos sonhos, possuem sua base no real, como em características gerais como cores, formas, quantidade e grandeza, a partir de qual foram geradas. Características essas comuns aos sonhos e realidade (percepção quando acordado) parecem “existir objetivamente” tanto à vigília quanto ao sonho.
No terceiro argumento Descartes leva sua dúvida as últimas consequências. As questões partem da hipótese de um deus criador que “tudo pode e me criou tal como sou”, e que nossas crenças estão de acordo com o modo de tal forma como fomos criados. E que poderíamos ter sido criados por um deus enganador, uma espécie de “gênio maligno” que me enganasse a respeito da existência de todas as coisas. Sendo este um elemento externo, todo poderoso que pode até mesmo penetrar no meu mais profundo interior e criar ilusões a fim de me enganar, a única forma de se preparar contra esse deus enganador seria suspendendo seu juízo sobre todas as coisas, e permanecendo sempre na dúvida.
Digimons, monstrinhos virtuais, foram criados no começo dos anos 90 por Aki Maita, foram originados a partir dos Tamagotchi, este que fizeram grande sucesso no mundo e inclusive aqui no Brasil. Pensando nos garotos, Aki Maita teve a brilhante idéia de coloca-lós para lutar, pois segundo ela garotos adoram lutas. Surgiram então os digimons em 1996.

Digimon anime que se passa em um mundo paralelo a terra, criado a partir das redes de computadores da terra, habitado por diversas formas de vida, denominados digimons. A trama começa quando crianças chegam ao mundo virtual e os digimons ajudam-lhes a voltar para a vida na terra, durante o percurso se envolvem em diversas aventuras e batalhas.
A primeira questão levantada pelo argumento do cogito e a percepção do mundo através dos sentidos, então seriam os digimons reais? Pois, eles são percebidos pelos humanos a sua volta como seres pensantes, além disso, eles têm uma percepção de si e do mundo a sua volta através dos sentidos, “... embora sejam feitos de dados, eles podem chorar, sorrir e lutar assim como nós...” Questionando Descartes um Digimon lhe perguntaria: “Penso! , logo existo?”.
A segunda questão que levanto é: será que toda a estória não se passaria apenas nas mentes das crianças durante o seu sonho? , pois Descartes alerta que não possuímos um critério para distinguir o estado de vigília do sonho. Outra hipótese aceitando que o digimundo se passasse em nível de sonho. Como as crianças saberiam que aquilo que viram em seus sonhos seria de fato um digimon? Descartes fala que mesmo imagens fantásticas que possuímos em nossos sonhos têm uma base no real. Então parecem eles “existir objetivamente”.

A última questão que levanto com base na terceira parte do argumento do cogito é: Seriam os digimons fruto da imaginação das crianças que lhes criaram assim como são? Assim, deixo em aberto agora o espaço para quem quiser comentar a respeito do tema, ou mesmo expressar sua opinião sobre os digimons.

Angel Beats e a Alegoria da Caverna

"As pessoas vivem suas vidas atadas ao que aceitam como verdade ou ilusão, é assim que eles definem realidade. Mas o que significam verdade e ilusão? Isso é um conceito vago, ninguém para para pensar que essa realidade pode ser uma miragem."

Uchiha Itachi, Naruto

               Platão ao escrever a alegoria da caverna pressupôs que existiam duas realidades, uma dentro da caverna, onde a única fonte de luz é uma fogueira que projeta as sombras da realidade de fora no fundo da caverna, onde a maioria das pessoas que vivem ali aceitam aquelas projeções como real, enquanto outras, vão atrás dos materiais (da matéria) que projetam aquelas sombras. E essa seria a segunda realidade, a de fora da caverna, aquela pouco habitada, na qual as pessoas que ali chegam são sedentas por conhecimento e buscadoras da verdade. Será que existem essas duas realidades? E em qual será que vivemos? 

                Ao acordar sem memória nenhuma do que lhe aconteceu, Otanashi Yuzuru, percebe que está em um mundo diferente, porém idêntico ao seu e com o passar da história ele encontra outras pessoas que, assim como ele, tem ciência que estão em uma realidade diferente da usual. Contudo, ele também encontra pessoas que vivem suas vidas normalmente, desprezando ele e seus amigos, quase os tratando como se não existissem. De acordo com Platão, Yuzuru e todos aqueles que compreendem de que estão em uma realidade diferente, seriam uma representação daqueles prisioneiros que não só conseguiram sair da caverna, mas também entenderam que desde sempre foram enganados pelos seus olhos e a realidade deles era uma realidade incompleta, por causa das sombras resultantes dos objetos de fora da caverna.


                No momento em que Yuzuru começa a investigar o motivo dele e dos outros estarem ali e quando suas memórias retornam, ele percebe que permanecer naquele local é perigoso, pois com o passar do tempo todos podem desaparecer, não só fisicamente, mas espiritualmente também, ou seja, a existência da pessoa seria completamente extinguida, sem chances de renascer ou ser lembrada. E percebendo que para ajudar seus amigos a retornarem para a “verdadeira” realidade é só realizar pequenos desejos pessoais deles, ele começa, junto com Tachibana Kanade, outra conhecedora de tal segredo, e, eventualmente com Hideki Hinata, a tentar realizá-los. Contudo, algumas pessoas serão bastante relutantes em voltar para sua realidade “natal”, pelo fato de já terem sofrido muito. Nesse caso, tanto Yuzuru quanto Kanade e Hinata, seriam representações daqueles que tentam voltar para dentro da caverna na tentativa de resgatar os outros prisioneiros das ilusões que eles têm como verdade.



               Já a relutância de alguns pode ser explicada pelo fato de terem passado por experiências negativas e traumáticas na “verdadeira” realidade e por terem criado um tipo de descrença e bloqueio de que a vida poderia melhorar para eles, acreditando que o mundo em que eles vivem no momento é o mundo ideal. E isso nos leva a comparação àqueles prisioneiros, ainda cativos, que recebem os companheiros que retornaram de fora com imenso desgosto, palavras violentas, ameaças de morte ou simplesmente passam a ignorá-los.

                Mas e os sofistas? Aqueles que manipulam e são os principais produtores de sofismas, ilusões? Calma, calma, no anime, esses podem ser comparados aos NPC’s, que são os personagens programados para manipular a cabeça de todos aqueles que tentam quebrar as regras da realidade que eles estão vivendo. Vejam o vídeo e depois eu entro em mais detalhes...


                Digamos agora que esse garoto NPC, desprovido de nome, seja o sofista e a garota, Nakamura Yuri, seja a pessoa que está tentando sair da caverna. Podemos ver claramente o papel do sofista ai, tentando convencer o prisioneiro a ficar na caverna, mas por quê? Porque os sofistas, em sua maioria, são conhecidos por possuírem grande número de informação, e como sabemos informação hoje em dia é mais valiosa que ouro. E, por isso, subjugam aqueles menos sábios em prol de seus próprios interesses manipulando informação e criando ilusões, inibindo o senso crítico, o espírito curioso e a busca pelo conhecimento [todos esses fatores estimulantes criticamente podem ser representados pelo “amor” no vídeo] de cada prisioneiro alienado.



                Bom, é isso galera, queria esclarecer só mais uma coisa, esse anime foi analisado dessa perspectiva por opção própria, mas ele também contém temas como sofrimentos traumáticos, vida pós morte, ressurreição, narcisismo, a polêmica questão da existência de um Deus... Enfim, é um anime onde o Jack estripador literário adoraria dar uma olhada. É isso, espero que tenham gostado!







Quem quiser mais informações sobre o anime e o tema abordado: